Flávia Longo: novo conceito de terapia mental

 Flávia Longo: novo conceito de terapia mental
Foto: Reprodução

Ela juntou psicologia, neuropsicologia, terapia ocupacional, fisioterapia, fonoaudiologia, psicomotricidade, psicopedagogia e nutrição. Desse combo nasceu em Campos a Uniclin, uma clínica completa para diagnóstico e taparia de questões diversas como TDAH e depressão, entre muitas outras.

Nesta entrevista, a neuropsicóloga Flávia Longo conta como há quatro anos decidiu montar um espaço que reúne todas estas especialidades. Os resultados são excelentes e a Uniclin passou a ser uma referência regional.

A geração 60+, por exemplo, passou recentemente a cuidar da saúde mental com a expectativa da longevidade, mas ela frisa que, ao mesmo tempo, é preciso harmonizar mente e corpo.

No curso da entrevista, Flávia frisa que em tempos modernos, as pessoas precisam fazer as pazes com a felicidade, buscando a qualidade do tempo. Se o leitor é daqueles que acha que quem vai ao psicólogo tem problemas, saiba que também os tem.

O que te levou a montar a Uniclin?
Eu sempre tive meu espaço, um consultório, que dividia com uma amiga da minha área profissional. Ficamos um tempo trabalhando juntas na psicologia. Sempre tive essa vontade de ter comigo uma equipe, porque eu sempre fui uma psicóloga de ir buscar um conjunto para o paciente, pois entendo que o paciente tem que evoluir como um todo. Primeiramente, pensei no meu público-alvo, que era o infantil, embora atendesse também adultos. Enfim, percebi que esse tratamento tinha que ser múltiplo com fonoaudiólogas, terapeutas ocupacionais, entre outros. Precisava montar essa equipe e, para isso, precisava transformar o então consultório em uma clinica completa, um espaço onde pudesse cuidar do paciente de uma forma única. O paciente entra na clínica para uma avaliação em todas as especialidades, e todos os profissionais podem conversar e chegar a um tratamento comum a ele, cada um na sua área. Depois de quatro anos, posso dizer que os resultados são excelentes e, por isso, somos referências na região.

Sua clínica nasceu praticamente em meio à pandemia da Covid-19. Como foi essa coisa do atendimento remoto, por vídeo?
Eu tenho muitos planos de saúde. A gente atende por muitas operadoras, e na pandemia trabalhamos muito no módulo online, era só o online. Então, eu começava os atendimentos às vezes às 6h da manhã e terminava às 23h. Ficava o dia inteiro no consultório ou na minha casa. Foi uma ferramenta muito importante, digo fundamental, para a gente enfrentar aquele período desafiador. Momento crítico em que todos precisavam de suporte psicológico. Com o fim da pandemia, continuamos fazendo atendimento online, mas atualmente não mais. Foi necessário voltar e priorizar o atendimento presencial, porque o contato físico é muito importante, principalmente na psicologia.

Explica?
Você está ali olhando para o paciente, acolhendo, trazendo para ele aquele olhar clínico, cuidadoso. Então, isso também foi voltando aos poucos. Em nossa clínica, o atendimento é presencial, até porque não é só consulta, e sim um tratamento. O atendimento retomo dificulta um pouco isso, principalmente com crianças. Não temos como, por exemplo, colocar na mesma tela a terapeuta ocupacional. Tratar uma criança online é difícil, porque ele precisa do manejo. A fisioterapia precisa do contato físico. A fono, algumas questões, a gente até consegue, mas a gente não faz, porque entende que a criança no ambiente de casa, na maioria das vezes, perde o foco. O processo tem que ser presencial, pois existem trabalhos que precisam ser desenvolvidos por toda a equipe. Então, tudo isso precisou ir voltando para o presencial, e hoje a gente não atende de forma remota.

E essa questão das crianças atípicas em Campos? Como você avalia?
Então, a neuropsicologia vem crescendo muito. A gente trabalha com as hipóteses diagnósticas, um conjunto de uma avaliação através de instrumentos psicológicos que a gente consegue ter acesso a essa criança, ao interior dessa criança. Então, eu consigo fazer um pré-diagnóstico de TDAH, de autismo, de muitos outros transtornos, como o de ansiedade, por exemplo. Isso tudo, deixando bem claro, junto com o médico, com o neuropediatra, ou, se for adulto, com neurologista mesmo. A gente consegue chegar a um diagnóstico comum e encaminhar o paciente para as terapias. E aí, essas terapias vão tratar o paciente. Definir as habilidades que ele necessita. As terapias são fundamentais, porque, depois de feito o diagnóstico, elas precisam ter continuidade. Comecei falando da neuropsicologia, porque, a partir dela, podemos ter precisão diagnóstica, observando aí outras ferramentas, a soma de todas as especialidades. Eu recebo diariamente na clínica muitas crianças atípicas. Temos avançado muito nos tratamentos nessa área.

E a questão das pessoas idosas, os chamados 60+. Eles estão procurando suporte psicológico?
Eu costumo dizer que nunca é tarde para a gente procurar ajuda. Em qualquer momento da nossa vida, a gente precisa de um suporte emocional, e terapia é vida. A terapia nunca esteve tão presente e nunca foi tão necessária. As pessoas com mais de 60 anos, muitas delas, estão indo ao psicólogo pela primeira vez e isso é realmente muito bom. A cabeça é um computador e ela recebe informação o tempo inteiro. A terapia nessa idade é fundamental, sim.

No mundo cheio de telas, como fica o emocional das pessoas?
Primeiramente, é preciso destacar que as telas, seja do computador, do celular, viraram os melhores amigos da gente, no bom sentido, porque a gente precisa delas. Mas, ao mesmo tempo, as telas viraram nossos piores inimigos, porque ali a gente tem acesso a tudo, não só as coisas boas, mas também as ruins. Na questão das crianças, por exemplo, elas não sabem lidar com todas as informações que recebem diante do que eles estão vendo. São muitas informações. Então, a terapia entra para dar um equilíbrio no uso das telas. A gente explica para a criança, explica para os responsáveis o quanto que é prejudicial, o quanto que a gente precisa filtrar as informações que a gente recebe, as boas informações. Muito ruim é não ficar atento a isso. Na verdade, o mesmo aplica-se aos adultos. Às vezes, a gente olha cada coisa que nos assusta. Então, a terapia também auxilia nisso, e não só a psicologia, todas as terapias em si.

Existe uma geração, essa de 60+, que se socorre nos psicotrópicos. Vocês atuam no desmame dessas drogas? Isso é uma epidemia?
Enquanto terapeutas, não podemos nem prescrever, nem fazer mediação de medicação nenhuma. Isso cabe só à medicina mesmo. Mas, quando o médico começa um desmame, aí passa a ser importante o atendimento multidisciplinar, trabalhando em conjunto, quando o médico sinaliza para mudanças ou redução da medicação. Nesse caso, entramos com o suporte para que esse paciente não se sinta desprotegido.

Hoje existem estresses diversos, que resultam em pânico. Como é isso?
Precisamos estar atentos a muitos sintomas. Precisamos primeiro nos conhecer. Costumo dizer que a principal característica que a gente precisa observar é o autoconhecimento. Precisamos entender o que está acontecendo com a gente antes de qualquer coisa. Então, eu digo que o primeiro passo para um bom diagnóstico é a gente entender as nossas questões. O pânico é algo mais complexo do que a gente imagina. Um conjunto de situações que temos que analisar uma a uma para estabelecer um tratamento correto. Muitas vezes, sintomas são confundidos. A avaliação precisa ser a partir de um estudo mais minucioso de todos os sintomas e são muitos com a fobia. Vivemos em um mundo onde precisamos ser multifuncionais e nem sempre isso é saudável. A gente precisa desenvolver muitas coisas… trabalhar com muitas coisas ao mesmo tempo e isso causa ansiedade e pode, sim, desenvolver para um quadro de ansiedade extrema.

Como observar tudo isso?
Vamos lá. Existem alguns sintomas que a gente pode trazer para essa questão do pânico… sudorese e taquicardia são dois exemplos que a gente pode pensar no pânico. Mas a gente também pode pensar em diversas outras coisas. Então, por isso, o diagnóstico, ele tem que ser feito da maneira correta. Nem sempre tudo que a gente lê é o que a gente tem, né? Precisamos estar atentos aos sinais para permitir um diagnóstico correto.

As pessoas estão vivendo bem mais. E o que você aconselha a essas pessoas para viverem com mais qualidade mental?
O primeiro ponto é que a gente precisa juntar o físico e o mental. Porque para a gente estar bem com o nosso corpo físico precisa estar bem com a nossa cabeça. Mas falando da parte mental, a gente precisa buscar por qualidade de vida. Precisamos determinar, fazer combinados com a gente mesmo. Determinar que a gente vai sair para jantar com um colega. Que a gente vai assistir a um bom filme, ler um bom livro, tirar tempos de qualidade, porque a gente já vive uma vida muito corrida. O dia a dia, ele já tá ali naquela correria de sempre, com hora para tudo, o tempo inteiro. Precisamos nos organizar, planejar, pois vivemos um roteiro durante o dia. Então, se a gente não parar e tirar esse tempo de qualidade, a gente acaba envelhecendo muito mais rápido por diversas questões. Temos que ter mais qualidade de vida. Separar tempo para a família. Ter tempo com os amigos, tomar uma taça de vinho, conversar com pessoas. Com qualidade do tempo, encontramos na maioria das vezes a felicidade.

Ainda existe o estigma “vou mandar essa criança para o psicólogo”?
Isso felizmente está acabando. Antes havia um preconceito com a psicologia. Só ia à terapia quem tinha algum tipo de problema. Quem pensa assim tem realmente um problema. Vai à terapia hoje quem busca autoconhecimento, quem busca qualidade de vida. Lógico, nós temos as exceções, temos pessoas que buscam depois que o mundo já está desabando. Mas a terapia engloba a nossa vida inteira. Ela vai trazer as respostas. Vai te encaminhar para que você encontre as respostas do que você busca. Então, são reflexões, são diálogos que trazem para você um pouco mais de conforto. Esse preconceito precisa acabar e ele está acabando. A gente hoje recebe na clínica pessoas de todas as idades, inclusive, na semana passada recebemos um idoso de 65 e um de 82, ambos com quadro de depressão. Eles perceberam que precisam de ajuda.

O post Flávia Longo: novo conceito de terapia mental apareceu primeiro em J3News.

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *