Testemunha gravou emboscada contra perito
Uma testemunha gravou o momento em que o papiloscopiosta Renato Couto Mendonça, de 41 anos, é agredido e imobilizado ao menos por 2 minutos e colocado em uma van por militares na Praça da Bandeira, na Zona Norte do Rio. O local fica na calçada de uma agência do INSS, que estava aberta na hora da emboscada, por volta de 14h30 da última sexta-feira (13).
Renato foi levado e morto após uma discussão em um ferro-velho.
O corpo de Renato foi encontrado na manhã desta segunda-feira (16) às margens do Rio Guandu, na altura de Japeri, na Baixada Fluminense, e reconhecido por parentes.
No vídeo é possível ao menos três homens imobilizando Renato. Ele recebe uma chave de braço e em seguida é colocado na van. O grupo, então, deixa o local.
Quatro pessoas foram presas pelo crime — três são militares.
Nesta segunda-feira (16), o juiz Rafael de Almeida Rezende, da Central de Custódias do Rio, converteu a prisão em flagrante para preventiva de Lourival Ferreira de Lima, 67 anos, Bruno Santos de Lima, de 41, Manoel Vitor Silva Soares, de 32, e Daris Fidelis Motta, de 46 anos.
Eles são acusados pelo sequestro, morte e ocultação de cadáver de Renato.
Irmã pede justiça
Débora Couto, irmã do papiloscopista, pediu justiça ao reconhecer o corpo do perito.
“Eles armaram para matar mesmo.”
Uma testemunha afirmou que Renato levou pelo menos três tiros — o último, quando já estava desacordado.
“A gente quer agora justiça, que eles sejam punidos severamente. Porque a gente conhece as leis do Brasil. A gente sabe como é. Nada justifica, nada, nada justifica”, emendou.
Débora afirmou que Lourival Ferreira de Lima, um dos quatro presos pelo crime, receptou materiais furtados de uma obra do irmão.
“Meu irmão foi morto com as notas fiscais do que foi roubado no bolso. Ele procurou o que era dele, ele procurou reaver o que ele tinha comprado com o dinheiro dele”, disse.
Uma testemunha registrou uma discussão entre Renato Couto, o papiloscopista morto por militares da Marinha, e Lourival Ferreira de Lima, dono do ferro-velho e um de seus assassinos, horas antes do crime. O corpo do perito foi localizado e reconhecido nesta segunda-feira (16).
O delegado Antenor Lopes, chefe do Departamento-Geral de Polícia da Capital, disse que o vídeo da briga ainda será periciado.
“Não temos confirmação da autenticidade desse vídeo, porque ele tem um corte. Vamos mandar isso para a perícia. Se de fato é o policial. Sendo ele, qual o contexto daquilo ali? A informação é que houve uma discussão, o policial sacou a arma porque teria sido ameaçado”, explicou.
O vídeo da briga
Na gravação, Renato, de verde, aponta uma arma e grita para Lourival, de cinza. Em alguns momentos, o papiloscopista bate no dono do ferro-velho.
Segundo as investigações, Renato tinha encontrado peças furtadas de uma obra sua no estabelecimento de Lourival e foi cobrar a devolução ou o ressarcimento.
“Ajoelha, c*ralho”, grita Renato. “Não pode comprar produto roubado! Você me respeita!”
Depois dessa discussão, ainda de acordo com a polícia, Lourival falou com o filho, o sargento da Marinha Bruno Santos de Lima, para resolver a questão.
A polícia afirma que, a partir daí, pai e filho arquitetaram uma emboscada.
Bruno chamou dois colegas de farda, o cabo Daris Fidelis Motta e o terceiro-sargento Manoel Vitor Silva Soares, e combinou um novo encontro com Renato para a tarde de sexta, prometendo uma solução.
Quando Renato chegou, ele foi rendido pelos quatro.
A emboscada, segundo a testemunha
Eram 14h30 de sexta-feira quando Lourival, Daris e Manoel seguram Renato por trás.
O trio tenta algemá-lo. Renato reage, e só um pulso é preso.
Bruno, armado, ordena: “Deita no chão!”
Um dos três que tentavam imobilizá-lo grita para Bruno: “Aplica esse cara logo!”
Bruno dispara, atingindo Renato na perna.
Renato não cede e procura se desvencilhar.
Bruno atira de novo, agora acertando o perito no peito.
Renato começa a desfalecer, mas diz: “Eu não fiz nada, eu não fiz nada!”
Um dos agressores diz: “Ele vai cair, ele vai cair!”
Lourival recolhe as cápsulas dos disparos.
Bruno, Daris e Manoel arrastam a vítima para dentro da van da Marinha.
Lourival bate e chuta várias vezes em Renato, desacordado.
Bruno dispara uma terceira vez contra o papiloscopista.
Renato é colocado na van.
Os quatro confessaram o crime e disseram que jogaram Renato de uma ponte do Arco Metropolitano sobre o Rio Guandu, em Japeri.
O que diz a Marinha
A Marinha do Brasil (MB) informou que tomou conhecimento, na noite de sábado (14/05), sobre uma ocorrência, com vítima, envolvendo militares da ativa do Comando do 1º Distrito Naval, objeto de inquérito policial no âmbito da Justiça comum. “Os militares envolvidos foram presos em flagrante pela polícia e responderão pelos seus atos perante a Justiça”, disse.
“A MB lamenta o ocorrido, se solidariza com os familiares da vítima e reitera seu firme repúdio a condutas e atos ilegais que atentem contra a vida, a honra e os princípios militares.”
“A MB reforça, ainda, que não tolera tal comportamento, que está colaborando com os órgãos responsáveis pela investigação e informa que abriu um inquérito policial militar para apurar as circunstâncias da ocorrência”, emendou.