Violência contra médicos e enfermeiros disparam em dez anos


Os casos de violência contra médicos, enfermeiros e demais trabalhadores da saúde não param de crescer no Brasil. Em uma década, as agressões físicas e verbais contra médicos aumentaram 68%, revelando um cenário preocupante dentro e fora dos hospitais. A informação é do Conselho Federal de Medicina (CFM), levantada pelo portal G1.
Enfermeiros também são vítimas: um levantamento realizado em 2023 pelo Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP) revelou que 80% dos profissionais de enfermagem no estado já foram vítimas de agressões no ambiente de trabalho. No Distrito Federal, outra pesquisa aponta que 82,7% dos enfermeiros ou técnicos já sofreram violência física enquanto trabalhavam.
De acordo com levantamento nacional, os ataques incluem desde xingamentos e ameaças até situações extremas, como esfaqueamentos. Enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem também estão entre as principais vítimas. Muitos relatam que chegam ao plantão com medo de não voltarem para casa.
“Meu marido falou: um dia eu vou buscar o seu corpo no seu trabalho”, desabafa Karina Valverde, de 45 anos, técnica de enfermagem agredida pela acompanhante de uma paciente em um hospital na zona oeste de São Paulo.
O episódio ocorreu quando ela e uma colega tentaram organizar o fluxo de acompanhantes dentro da sala de medicação. Após uma discussão, Karina foi agredida com arranhões, socos e tapas pela filha da paciente.
“Não tinha ninguém para me ajudar. O segurança é patrimonial, não interfere nesses tipos de caso. A médica do plantão também havia sido agredida dias antes”, conta.
A história de Karina é mais uma entre milhares que se multiplicam em consultórios, prontos-socorros e unidades básicas de saúde em todo o Brasil. A violência contra profissionais da saúde cresceu exponencialmente na última década.
O problema vai além da segurança física. Segundo o médico e diretor do Conselho Federal de Medicina (CFM), Estevam Rivello, os profissionais da saúde têm sido responsabilizados por deficiências estruturais do sistema.
“Quando não há médicos suficientes, medicamentos ou exames, o profissional é culpado pela falha de gestão”, afirma.
Segundo o diretor do CFM, a popularização de vídeos nas redes sociais e a facilidade de expor profissionais online têm contribuído para o clima hostil. “A comunicação hoje amplifica os conflitos. Qualquer demora no atendimento vira roteiro para viralizar um vídeo.”
A Associação Paulista de Medicina (APM) está preocupada com o aumento da violência. De acordo com o presidente da entidade, Antônio José Gonçalves, “os médicos estão sendo punidos por falhas no sistema. E isso não é justo. Decidimos reforçar o apoio jurídico aos médicos e médicas do Estado de São Paulo que são vítimas de violência, coação ou abusos”.
Para o diretor da APM, Marun David Cury, “o médico, infelizmente, paga por todas as mazelas do sistema, seja no âmbito público ou privado. O usuário acha que o profissional é o representante oficial de toda a cadeia de Saúde, quando, na realidade, ele é um mero prestador e acaba sendo responsabilizado por eventuais falhas de administração e de gestão. Isso é um absurdo e precisamos conscientizar a população”.
Só em 2024, foram registrados 4.562 boletins de ocorrência, o maior número da série histórica. Isso significa que 12 médicos são agredidos por dia no país.
Todos os entrevistados para a reportagem consentem que há, pelo menos, uma agressão – verbal ou física – todos os dias no ambiente em que trabalham.
Com informações do G1.
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